“O anúncio dramático de Netanyahu de que impediria qualquer tentativa de transferir o controlo de Gaza para Mahmoud Abbas [presidente da Autoridade Palestiniana] foi quase cómico. Netanyahu criou um adversário fictício que promete subjugar”, ironizou Lapid num artigo para o jornal The Jerusalem Post.
O chefe do Governo israelita assegurou em 02 de dezembro que, se cumprir o objetivo de eliminar o movimento islamita Hamas, não permitirá que a Autoridade Palestiniana, que governa partes reduzidas da Cisjordânia ocupada, controle a Faixa de Gaza.
“Não cometerei o erro de permitir que a Autoridade Palestiniana governe em Gaza, seria o mesmo que o Hamas”, declarou Netanyahu numa conferência de imprensa em que defendeu “uma nova visão, uma mudança” no enclave palestiniano, que inclua “segurança e controlo israelita”.
Lapid, ex-primeiro-ministro israelita e líder do partido Yesh Atid (Há futuro), tem sido a favor de uma coligação árabe internacional que assuma a responsabilidade pela gestão dos assuntos quotidianos da Faixa de Gaza após a guerra em curso entre Israel e o Hamas, que governa o enclave palestiniano desde 2007.
Essa coligação incluiria a Autoridade Palestiniana, tal como solicitado por países da região como a Arábia Saudita ou os Emirados Árabes Unidos.
Sem essa solução, defendeu, “a probabilidade de se investirem milhares de milhões de dólares na reabilitação de Gaza é quase zero”, razão pela qual considera que é uma “medida razoável”, uma vez que a Autoridade Palestiniana também tem um número significativo de funcionários públicos que não estão alinhados com o Hamas.
No entanto, condicionou a participação da Autoridade Palestiniana em quaisquer negociações à sua desradicalização e ao fim das suas alegadas campanhas contra os judeus, bem como a um compromisso real contra a corrupção, alertando que, sem estas preocupações, “ninguém estaria disposto a apoiar a sua participação”.
“Israel não entregará o controlo das questões de segurança a mais ninguém (…). Israel não aceitará qualquer proposta para o envio de uma força multinacional nem instalará um governo tecnocrático, ou que inclua o Hamas”, concluiu.
O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita em 07 de outubro, massacrando cerca de 1.140 pessoas, na maioria civis, segundo números oficiais de Telavive.
Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento palestiniano considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, já foram mortas mais de 22.000 pessoas — na maioria mulheres, crianças e adolescentes — e feridas acima de 57 mil, também maioritariamente civis.
O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado.
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