Mais de 90% da população de Tigray está “exposta ao risco de fome e morte”, disse na sexta-feira Getachew Reda, presidente da administração interina da região, na rede social X (antigo Twitter), apelando à ajuda do Governo etíope e da comunidade internacional.
Getachew comparou a atual situação com a fome na Etiópia nos anos 1980, que matou cerca de um milhão de pessoas, e pediu “ação urgente”.
“Uma declaração recente de que a crise na região de Tigray está a evoluir para uma fome e seca comparável à de 1984-85 é completamente falsa”, disse hoje o porta-voz do Governo federal, Legesse Tulu, numa conferência de imprensa televisionada em Addis Abeba, capital do país.
No entanto, Tulu reconheceu que 3,8 milhões de pessoas “enfrentam o risco de seca” em várias zonas de Tigray, bem como nas regiões vizinhas de Amhara e Afar.
Além disso, 1,1 milhões de pessoas foram afetadas pelas inundações, afirmou, acrescentando que o Governo federal estava a prestar assistência aos necessitados.
Na mensagem no X, Getachew tinha alertado para uma “catástrofe humanitária iminente”, devido aos efeitos de dois anos de guerra – entre 2020 e 2022 -, à seca seguida de chuvas destrutivas e à suspensão temporária este ano da ajuda dos Estados Unidos (USAID) e do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU.
A USAID e o PAM suspenderam toda a ajuda alimentar à Etiópia em junho, alegando apropriação indevida, e as entregas só lentamente estão a ser retomadas.
A situação no terreno no norte da Etiópia não pode ser verificada de forma independente, uma vez que o acesso dos meios de comunicação social a Tigray é restringido pelo Governo federal, segundo a agência AFP.
Numa declaração, no passado dia 22, a agência da ONU responsável pela coordenação humanitária já tinha alertado para o risco de deterioração da situação alimentar em Tigray.
A Etiópia enfrenta simultaneamente inundações e chuvas torrenciais em partes do sul do país, devido ao fenómeno meteorológico El Niño, e uma seca persistente no norte.
A guerra de Tigray começou em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva contra a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF), em resposta a um ataque a uma base militar federal e à escalada das tensões políticas.
Pelo menos 600.000 pessoas foram mortas durante a guerra de Tigray, de acordo com o mediador da União Africana, o antigo Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo.
Um acordo de paz selado em novembro de 2022 pôs fim a dois anos de guerra, mas a violência, especialmente a violência sexual, continuou desde então.
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